História
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- Publicado em: 10/10/2020 às 00:00 | Imprimir
O antigo povo de São Miguel, localizado em São Miguel das Missões sobressai com o mais importante remanescente da civilização jesuítico guarani dos Sete Povos das Missões, localizados na Região Noroeste do Estado, constituindo um dos conjuntos de arqueologia histórica mais importantes situados em terras brasileiras. Estas evidências materiais da singular civilização resultante do convívio do jesuíta europeu com o indígena provêm do início do século XVII, época da fundação dos sete Povos e, especificamente, da criação do povo de São Miguel. Sua instalação definitiva só se dá, no entanto, em 1687, já que, devido aos ataques dos bandeirantes, esta redução teve que ser transferida para a outra margem do Rio Uruguai, só se efetivando sua instalação no sítio atual quando cessaram as investidas paulistas. Nesta época inicia-se um período de grande desenvolvimento e num processo de transculturação os índios guarani vão gradualmente absorvendo a cultura européia, transformando-se em hábeis artífices, metalúrgicos, tipógrafos, escultores, pintores, músicos. Ceramistas, canteiros e fabricantes de instrumentos musicais.
Como os objetivos primordiais da Companhia de Jesus eram a doutrina e a catequese, a vida comunitária no povo de São Miguel se desenvolvia em torno deste primado.
A base da economia era os produtos da terra, concentrando-se preponderantemente na alimentação. Era privilegiada a produção doméstica familiar, num sistema misto de propriedades comunitárias e privadas. Neste período foram introduzidas as culturas da erva-mate, do milho, do algodão e outras, além da pecuária.
No que diz respeito ao sistema de organização política, a história missioneira gerou múltiplas análises. A dominação que os jesuítas espanhóis exerceram sobre os índios, em sua maioria guarani, foi resultado de administração mista que mantinha a legitimidade dos caciques e introduzia paralelamente a força da igreja. Esta dominação sem o uso da escravatura, fenômeno raro na história, deve-se em grande parte ao convívio e observação da vida indígena e o aprendizado de uma civilização dentro dos parâmetros europeus eram plena floresta subtropical, com índios egressos da pré-história.
Este processo foi detido quando da expulsão dos jesuítas em 1768, passando os Povos das Missões a serem governados pela administração colonial espanhola e a partir de 1801, pela administração portuguesa. O povo de São Miguel, que em 1694 contava 4492 habitantes, em 1801 com 1900 habitantes, chegou a 1822 com apenas 600 indígenas.
O processo de decadência ocorreu em função dos tratados que entre si vinham estabelecendo entre Portugal e Espanha: em 1750 o Tratado de Madri troca a Colônia de Sacramento (hoje Uruguai), pelo território dos Sete Povos das Missões, sendo os índios obrigados a abandonar suas terras. O apego ao torrão natal expresso pelo herói mítico Sepé Tiarajú explica a eclosão das guerras guaraníricas (1754 - 1756), quando os índios afinal derrotados, antes de abandonarem a redução, ateiam fogo às suas residências e ao Colégio. O Tratado de Madri é anulado pelo Tratado de El Pardo em 1761, que permite aos índios retornarem às suas terras até a definitiva expulsão dos jesuítas dos domínios espanhóis, decretada por Carlos III, rei da Espanha. Finalmente a Guerra Cisplatina, em 1828, destrói o que ainda resta da civilização missioneira, quando D. Fructuoso Rivera incorpora a seu exército todos os homens que encontra nas Missões.
Esse período é suficiente, no entanto, para que floresça uma cultura diferenciada na Bacia do Prata, cujos remanescentes reportam ainda hoje em sua materialidade um alto grau de desenvolvimento, não só na organização econômica, política e social, mas também nas áreas de arquitetura e das artes.
A riqueza deste passado, refletido na monumentalidade das Ruínas da Igreja de São Miguel - que vêm sendo consolidadas pela SPHAN (hoje IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) desde 1937 e que em 1983 foram declaradas pela UNESCO como Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade - é hoje um monumento que atrai turistas de vários pontos do Brasil e do Mundo, que já encontram na cidade e região circunvizinha infraestrutura turística de acolhimento.
A vila de São Miguel surgiu em 1926, quando foi efetuado um loteamento urbano em torno dos remanescentes do antigo povo jesuítico-guarani.
Em 29 de abril de 1988, a vila de São Miguel emancipou-se de Santo Ângelo, tornando-se um município responsável, portanto, pela estruturação de condições administrativas e fiscais para seu desenvolvimento urbano e rural.